O título desta coluna é um plágio do livro (homônimo) de Chuck Klosterman.
Logo na orelha da obra há uma frase que, por assim dizer, inspira esse texto: “Nós vivemos em uma cultura de certezas casuais”.
Klosterman, de maneira incomum, propõe uma série de discussões a respeito da produção cultural sob uma perspectiva de logo prazo. Considerado um dos mais importantes críticos culturais da atualidade, o que ele faz é relativizar a importância que damos a certezas acerca daquilo que parece culturalmente importante no nosso tempo. Para exemplificar, em algum momento, ele aponta como Van Gogh foi muito mais importante depois da sua vida do que durante ela, e como as particularidades da sua existência contribuíram para que ele tivesse um valor, reconhecido no futuro, completamente inimaginável para seus contemporâneos. Em outro momento, ele pergunta se Elvis Presley (branco, hétero, americano e não compositor) poderia sintetizar o rock daqui a 500 anos.
Estas e outras diversas provocações abordam a transitoriedade dos aspectos culturais.
E o que isso tem a ver com a comunicação nos dias de hoje?
Pois é… dei a volta ao mundo para falar do BBB. Não há dúvidas de que se trata de uma produção cultural relevante para estes anos iniciais do milênio aqui no Brasil. Podemos gostar ou detestar (estou no segundo grupo), mas não podemos ignorar a sua importância. Assim, a edição 2021 é particularmente interessante para que se observe a transformação da sociedade em “juiz do comportamento alheio”. Claro que isso existe desde sempre – e o mais bem acabado estereótipo é o da vizinhança fofoqueira. No entanto, com as redes sociais, esse hábito de falar da vida dos outros e julgar impiedosamente foi potencializado de uma forma nunca vista – e tangibilizado no que se convencionou chamar de cancelamento.
Agora, temos a quantidade de seguidores para indicar o nível de aceitação das condutas e classificar a relevância das pessoas. Das públicas às comuns.
Mas, retornando a Klosterman, e se estivermos errados?
E se estivermos utilizando recortes e fragmentos de comportamentos para validar ou invalidar as atitudes de uma pessoa? E se não estivermos considerando que todo mundo é, eventualmente, bom ou ruim? E se estivermos ignorando as trajetórias de vida e o fato de que estamos todos em constante aprendizado e transição comportamental? Em resumo: e se estivermos sendo injustos?
Obviamente, não se trata de passar um pano para comportamentos deploráveis. Nem de aceitar o que é (ou deveria ser) universalmente inaceitável.
Trata-se de empatia. Empatia não é transitória. As certezas são.
E o que isso tem a ver com a comunicação, com o marketing e com o que nós fazemos aqui na Octopus?
Tudo.
Mais do que nunca, uma comunicação que não considera contextos e não prioriza um olhar empático, já nasce ultrapassada. Entender e respeitar as pessoas é pilar para a criação de conexões sólidas entre marcas e a sociedade. Uma marca que ainda pensa em discursar para o seu público-alvo, não entendeu de que forma o jogo da construção de marcas é jogado nos dias de hoje.